Revolução Começa com a Voz: Como Falar sem Criar Mais Divisão
- Reildo Souza
- 26 de mar.
- 3 min de leitura
Atualizado: 28 de mar.
Tendemos a acreditar que a injustiça é causada apenas por líderes cruéis e sistemas corruptos, mas a história revela uma verdade ainda mais desconfortável: a opressão prospera não apenas por aqueles que a impõem, mas também por aqueles que permitem que ela aconteça.
Martin Niemöller e Martin Luther King Jr. compreenderam isso profundamente. Ambos sabiam que o maior perigo para a justiça não é apenas o ódio, mas o silêncio. O famoso texto de Niemöller, nos lembra como a opressão cresce quando as pessoas se mantêm indiferentes.
“Primeiro eles vieram buscar os socialistas, e eu fiquei calado — porque não era socialista.
Então, vieram buscar os sindicalistas, e eu fiquei calado — porque não era sindicalista.
Em seguida, vieram buscar os judeus, e eu fiquei calado — porque não era judeu.
Foi então que eles vieram me buscar, e já não havia mais ninguém para me defender.”
Da mesma forma, MLK afirmou poderosamente:
“No final, não nos lembraremos das palavras dos nossos inimigos, mas do silêncio dos nossos amigos.”
Mas embora falar seja essencial, como fazemos isso é fundamental. Se deixarmos nossa resposta se transformar em uma batalha de “nós contra eles”, perderemos o foco no verdadeiro objetivo: mudar sistemas, e não apenas culpar indivíduos. Empatia e pensamento crítico devem guiar nossas vozes, para que não criemos apenas mais divisão, mas sim soluções reais. E, acima de tudo, à medida que falamos, devemos ser a mudança que queremos ver.
É fácil olhar para a história e pensar: “Se eu estivesse lá, teria feito algo.” Mas será que teríamos?
Quantas vezes vemos uma injustiça e ficamos calados porque “não é nosso problema”?
Quantas vezes evitamos conversas difíceis para evitar conflitos?
Quantas vezes assumimos que outra pessoa tomará uma atitude—apenas para perceber que ninguém o fez?
É natural querer evitar o conflito. Mas o silêncio nunca é neutro. Quando não desafiamos sistemas prejudiciais, permitimos que eles continuem. Quando não defendemos os oprimidos, fortalecemos o opressor.
Tanto Niemöller quanto King nos mostram que a apatia é cumplicidade. Como diz o filósofo Micah Bouma:
“Quando não estou mudando, estou escolhendo.”
Se nos recusamos a desafiar a injustiça, estamos escolhendo sustentá-la. A mudança não acontece por acaso—ela exige ação.
Sim, precisamos nos manifestar—mas a maneira como fazemos isso determina se criamos mudanças reais ou apenas mais divisão. Hoje, muitas conversas sobre justiça se transformam em batalhas de “nós contra eles”, onde o objetivo deixa de ser resolver problemas e passa a ser apenas vencer discussões. Quando agimos sem empatia, desumanizamos o outro lado, assim como podem ter feito conosco. Quando agimos sem pensamento crítico, corremos o risco de reagir emocionalmente em vez de estrategicamente.
Uma reação impulsiva pode ser tão perigosa quanto o silêncio. A chave é falar com sabedoria, desafiar a injustiça com clareza e envolver aqueles com quem discordamos de uma forma que leve à transformação, e não apenas à oposição.
Como fazer isso?
Faça perguntas em vez de acusações – Em vez de atacar, incentive a reflexão: “Por que você acredita nisso?” ou “E se víssemos isso de outra perspectiva?”
Foque em mudar mentes, não punir pessoas – Criticar alguém por sua ignorância pode parecer satisfatório, mas convidá-lo para uma conversa verdadeira é muito mais eficaz, pois ambos crescem.

Seja orientado para soluções – Reclamar é fácil; apresentar soluções práticas é o que realmente gera mudanças.
Desafie o sistema, não apenas os indivíduos – É tentador culpar uma pessoa ruim, mas a opressão vai além dos indivíduos—ela envolve estruturas, políticas e normas culturais.
Cultive empatia – Se queremos que os outros entendam nosso lado, devemos estar dispostos a entender o deles, mesmo quando discordamos profundamente.
Seja a mudança que deseja ver – Se queremos um mundo baseado na justiça, na bondade e na integridade, devemos refletir esses valores em nossas ações diárias. Falar contra a opressão significa viver a solução, não apenas apontar o problema.
A verdadeira mudança acontece quando a coragem encontra a sabedoria. Falar com raiva pode gerar barulho temporário, mas falar com empatia e pensamento crítico gera impacto duradouro.
Comments